quinta-feira, 31 de março de 2011

Eu estava limpa e fresca, sentada na sombra de uma árvore, comendo maçã. E não sentia-me feliz. Eu olhava para o céu, ouvia o cantar dos pássaros e o silêncio do domingo na Vila Nova, que é velha e pacata até nos dias de carnaval. Mas domingo… domingo o folião mais agitado é o vento. Não estava feliz. Eu estava pensando nos meus planos e tentando lembrar o que tinha sonhado na noite anterior. Eu estava esperando quem ia chegar, esperando alguém que a caminho estava, mas não queria vir. E não era feliz.
me lembro




fui jovem



quando colori as nuvens



e mudei algumas estrelas de lugar



sem permissão



me lembro que inalei algumas cores do arco-íris



e respirei cintilâncias frescas



Tomei porre de olhar flores,



as flores do jardim que não era o da minha casa, mas era jardim.



Sem permissão



Delirei no céu



Aí sim, fui jovem



Quando me droguei de pôr-do-sol



Tanto foi o êxtase que tive overdose



de luz e paz, em overdose



Aí sim fui jovem.



Querendo ser jovem, dirigi por muito tempo em alta velocidade, arrancando todo o ar do meu caminho



Arrancando toda cerca, cerca de arvores



e quebrei muros e barreiras de carne viva, de pessoas e circunstancias.



Para ser mais jovem dirigi na contramão



Sem permissão



ingatei a ré, eternamente



querendo voltar



a ser neném na barriga



da mamãe



Agora sim, sou jovem