segunda-feira, 15 de agosto de 2011

graças a Deus

Um dia acordei pela manhã com a notícia de um acidente gravíssimo. Cinco pessoas estavam em um carro, que perdeu o controle na pista e capotou várias vezes. Três pessoas morreram e duas ficaram em estado grave. A notícia percorreu a cidade como um vírus mortal, rápido e preciso. Uma situação realmente complicada, pois eram todos adolescentes, estavam se divertindo em uma noite de sábado. Até que ouvi minha vizinha, que é religiosa fervorosa, e tem passado mais tempo na igreja com o suposto Jesus Cristo da igreja católica do que com o próprio marido, comentar com minha mãe que conhecia uma das vítimas que ficou em estado grave, e logo que falou isso lançou o bordão ’Graças a Deus’, que o adolescente que ela conhecia não tinha morrido, estava em estado grave mas estava vivo. Graças a Deus! E eu me pergunto, ‘Graças a Deus’? Como assim Graças a Deus? Como se Deus quizesse que três pessoas morressem e duas permanecessem vivas? Isso seria a coisa mais conflitante que poderia existir. É essa a impressão que as pessoas têm! É essa a impressão que eu tenho dos religiosos fervorosos, que passam horas e horas na igreja rezando terços, mas quando se vêem diante de acontecimentos errôneos totalmente humanos, não conseguem assumir que a falha é humana, e por isso colocam o nome de Deus em situações para amenizar as culpas e em poucos casos, a minoria, os méritos. Acreditam no livre arbítrio, acreditam que Deus nos dá o direito de fazer o que bem entendermos, acreditam haver destino, mas dizem que os feitos acontecem ‘graças a Deus’! Quando se trata de méritos e conquistas, as pessoas expõem os esforços a todos, levantam pro alto, colocam molduras. Pegam o mérito para si, e não se ouve ‘Graças a Deus’ mas se ouve um simples e nada modesto ‘eu consegui’. Agora quando acontece um acidente causado por outros motivos, não divinos, onde pessoas morrem e outras sobrevivem, vejo os mais religiosos dizendo: ‘graças a Deus que fulano não morreu’. Esse é o mérito atribuído a Deus quando as pessoas são vítimas de desgraças causadas por elas mesmas, quando são vítimas de si e de seus atos sensatos ou não, seja por bebida, por alta velocidade ou por irresponsabilidade. Coisas da vida. Já vi casos de acidentes que a vítima morreu sem ter culpa, sem estar alcoolizado , sem estar em alta velocidade, no entanto outro carro com um motorista alcoolizado e em alta velocidade veio e o atingiu. O motorista alcoolizado não morreu, o outro, sem culpa, morreu. E morreu sofrendo no meio das ferragens, morreu aos poucos, sofreu as dores até não aguentar. E ai? Graças a quem? Graças a Deus que o motorista alcoolizado sobreviveu? Será que Deus teria feito parte disso? Será que houve intervenção divina? Porque parece injusto uma pessoa sem culpa morrer dessa maneira! Isso me faz pensar muito em uma frase do poeta William Ernest Henley em que ele diz I am the master of my fate, I am the captain of my soul.”  Em português: “Sou o senhor do meu destino, sou o comandante da minha alma”. Essa é a verdade em que eu coloco toda a minha fé. Somos humanos, estamos comandando nossa vida, somos responsáveis pelos nossos atos, somos senhores do nosso destino. Ou então não precisaríamos de um dia de juízo final, dia este em que confessaremos todos os nossos pecados e responderemos pelos nossos atos (diz a igreja…). Ser senhor do próprio destino é simplesmente aceitar o posto de dono da própria vida, é se responsabilizar por ela e ter coragem de se responsabilizar pelo rumo que você dá a ela, pela maneira que você a conduz. Porque Deus, infinitamente perfeito, nos confiou a vida! Então temos que aceitá-la e mais que isso, assumi-la. Entender que se os adoslecentes beberam, e mesmo assim dirigiram, e dirigiram em alta velocidade e eventualmente se envolveram em um acidente trágico, que de cinco apenas dois sobreviveram, isso nada mais é que a maneira em que eles estavam conduzindo o carro, e as próprias vidas, naquela noite de sábado. Não tem essa de ‘Graças a Deus’. Nós conduzimos a nossa vida, sem destino e sem ‘Graças a Deus’. Se existe destino não somos livres. Se existe destino, porque então dizem tanto ’Graças a Deus’? Deus é infinitamente mais que isso. Deus confia.  E se alguns agora alegarem, que dizer ‘graças a Deus’ é apenas um modo de falar, que não tem essa carga semântica ao pé da letra, é aí que piora. Na igreja pregam que não pode usar o nome de Deus em vão, então existem muitas pessoas desobedientes. E ontem, eu ouvi dizer que Deus é todo mundo sorrindo ao mesmo tempo. Essa é agora outra verdade em que eu deposito toda minha fé, uma verdade nunca dita na igreja, nunca mencionada por padres e vizinhos. Ah, a igreja e seus ensinamentos! Graças a Deus que eu não vou mais à Igreja!

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