segunda-feira, 15 de agosto de 2011

hoje a culpa é da janela

Afinal, qual a finalidade das janelas? Se não para arejar as casas, deixarem a luz do sol entrar, e quando noite o sereno, e nos dias encalorados o vento do norte que sopra forte? Para quê servem as janelas se não apenas para embolar flertadas momentâneas? Para quê servem as janelas se não para colocarmos os cotovelos sobre elas e apoiarmos o queixo nas mãos, para então termos reflexões intensas? Pra quê servem as janelas se não para serem palco de romances caseiros? Até porque os mais modernos não se presam a começar por conta de sorrisos amarelados das afilhadas, das filhas, das netas, das primas e das amigas, vindos todos de uma janela! Para quê servem então, as janelas, se não para que possam dela vigiar a vida do vizinho, prestar atenção nos movimentos das pessoas, e nas roupas, nas etiquetas, e nos carros, e nas nuvens, e nas rodas, e nos cantos dos passeios, e nos canos, e nos tocos de madeira e nos idosos? Pra quê servem as janelas se não para que possam avistar a lua da cama onde se deitam? Para que servem então, as janelas, se não para que possam ver o tempo como está, e assim decidirem com que roupa ir? Eu pelo menos não tenho deixado minha janela ser janela. Dela enxergo somente o quintal de casa e a casa dos fundos. Algumas vezes vejo roupas no varal, secando, e vejo a travessia do gato de um canto para o outro. Para não culpá-la mais direi que dela não vejo a lua por conta da árvore da casa do vizinho, que a tampa completamente todas as noites em que tudo que eu mais preciso é olhá-la da cama do meu quarto. Não coloco meus cotovelos sobre ela para então apoiar o queixo na mão, porque isso é coisa de quem quer arranjar namorado ou ter reflexões intensas. Mesmo tendo certeza da veracidade da frase que Machado de Assis escreveu em seu livro ‘Dom Casmurro’: ‘nem a visão do impossível precisa mais que de um recanto de ônibus’… eu ainda desconfio. Sendo assim penso que qualquer lugar pode ser terra fértil para grandes reflexões, mas não, não da minha janela. Da minha janela não tenho reflexões, não observo pessoas, nem o céu. Ela serve somente para arejar o quarto, e mesmo assim, não temos muito contato, porque quando dou por mim a janela já está aberta. Minha mãe tem essa coisa de abrir as janelas, e ela sempre corre para abrir logo me vê atravessando o corredor. Ela corre para abrir a janela do meu quarto e eu rastejo para chegar ao banheiro e olhar meu rosto no espelho, de quem acabou de acordar. As poucas vezes que vou abrí-la ou fechá-la, ela se dá ao luxo de emperrar. Simplesmente não fecha, quando eu quero fechá-la, e simplesmente não abre, quando eu quero abrí-la, super teimosa. Outro motivo para essa falta de ‘diálogo’ existente entre a janela e eu, é que eu quase não fico no meu quarto, como essas adolescentes fazem de achar prazeroso ficarem no quarto olhando o pôster do cantor favorito, ouvindo música, ou até mesmo como os mais cultos que ficam lendo livros, mas eu leio na varanda de casa, não preciso do meu quarto nem de lutar para abrir uma janela que não quer ser aberta. Por conta dela descobri como é bom ler na varanda. Outro fato é que, uma vez que eu levanto da cama não entro mais no meu quarto, se entro é coisa rapidíssima, como por exemplo, para trocar de roupa depois do banho, mas creio que saio dele antes mesmo de entrar. Na verdade, eu não gosto mesmo é do meu quarto.


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