segunda-feira, 15 de agosto de 2011

habitat

Começamos a observar o aquário. Os peixinhos estavam naquele ambiente não natural, mas agindo como peixes. Normais. Alguns pares de peixes e um pequeno cardume. Fêmeas e machos. Eles nadavam normalmente, naturalmente, levemente, eu digo assim, como peixinhos no mar. E o pequeno cardume parecia um cardume, eu digo assim, um cardume de verdade, não de espécie comprada mas de espécie reproduzida no mar. E não havia som algum, eu digo assim, não havia som que nós pudéssemos ouvir. E parecia não haver comunicação, eu digo assim, comunicação que nos fosse perceptível. Haviam apenas olhos estalados, olhos que não devem ser somente olhos, eu digo assim, devem ser muito mais que olhos, olhos que falam sem voz. E mesmo sem som algum, sem presidente da república nem rei, sem leis nem normas, sem classes sociais, estava tudo hierárquico, eu digo assim, havia uma certa ordem sincrônica. O cardume sendo cardume, os pares sendo pares. Cada um no seu lugar. Machos e fêmeas, nenhuma voz. Havia entre eles um respeito sem que ninguém precisasse pedir, sem que isso precisasse ser imposto. Isso porque os olhos dizem mais do que a boca pode dizer, porque a boca perto dos olhos é desnecessária. Desconfio que os peixes e seus olhos não sabem da existência do mal e das coisas ruins. Talvez isso explique a perfeição daquela paz.

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